"Este não é um bom ano para caçar perdiz"

Os caçadores tiveram ontem o seu primeiro grande dia de caça. A época não é boa para quem prefere pássaros. Compensam com lebre e coelho.<br />
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Sete horas, ontem, dia de abertura da caça da "rainha", a caça à perdiz. O nevoeiro não deixa ver mais de um metro à frente do nariz. Está frio e sente-se a humidade. São assim muitas das manhãs de Outubro no Baixo Alentejo, onde uma equipa de 25 caçadores em zona associativa se prepara para iniciar a caminhada. A caçada começa um pouco mais tarde e, quando o sol rompe, o calor não se fez esperar. Apanharam 76 perdizes, 62 lebres e 11 coelhos. Confirma-se: "Este não é um bom ano para a caça da perdiz."

Em Maio, o mês em que as perdizes põem maioritariamente os ovos, caiu muita chuva de pedra que destruiu os ninhos. Assim, a associação decidiu limitar a cinco as perdizes que cada pessoa pode caçar num dia, além de reduzir para três o número de caçadas. Em contrapartida, podem atirar em todos os coelhos e lebres que apareçam, embora ontem estas espécies não estivessem na primeira linha da mira da caçadeira. É a chamada caça de "pêlo" ou de "chão" e há fartura nesta época. Já apanharam mil destas espécies este ano.

"Em termos de lebres foi uma boa caçada, este ano há muita lebre e coelho. Não matámos muitos coelhos porque não estávamos na sua zona. O número de perdizes é que não foi nada de especial, num ano bom costumam ser 200", contabiliza Vítor Palminha, presidente da Confederação Nacional dos Caçadores Portugueses, da Federação de Caçadores do Algarve e do Clube de Caçadores e Pescadores de Tavira.

É o grupo do Clube que o DN acompanhou ontem, uma associação que tem 76 sócios, um terço dos quais se dedica à caça. Vinte e cinco caçadores, três dos quais mulheres, e que na grande maioria elege a perdiz como a presa-rainha. "É um pássaro muito bonito, rápido e difícil de apanhar", justificam. Requer mais esforço e técnica, dificuldades que tornam a captura mais apetecível.

O clube tem uma zona associativa de três mil hectares, de Almajinha e do Tacão, a 20 quilómetros de Mértola, espaço pelo qual pagam 1400 euros de quota por ano. É uma caçada ordenada e que fazem questão de garantir ser importante para a sustentabilidade do ecossistema e contribuir para o crescimento económico do País. Com a certeza de que não se pode secar a fonte, ou seja, atirar sem preservar as espécies. Elogiam a boa relação com os responsáveis pelo Ministério da Agricultura e criticam os governantes dos ministérios do Ambiente e da Administração Interna. Queixam-se, sobretudo, da "caça à multa".

"A lei das armas discrimina os caçadores. Por exemplo, as nossas organizações não podem dar formação ao contrário do que acontece com outras de outros desportos. E os pareceres das áreas classificadas não têm em conta a realidade", critica Vítor Palmilha.

Em regra, a caçada começa com um segundo pequeno-almoço e termina com um almoço "avantajado". Fizeram três "manchas" (saídas para os locais de caça), quando num bom ano fazem quatro "manchas" por dia de caça.

Já passavam das 14.00 quando tiraram as armas e os cães (o perdigueiro, o pointer e o epagneul, peritos em perdizes) descansaram finalmente. E com um sol abrasador e um calor difíceis de suportar. Subindo e descendo os montes ("salto") ou ficando à espreita ("à porta") das perdizes afugentadas pelos caçadores de "salto". E vai ser assim até Fevereiro, mas com muito menos calor, espera-se!

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